Potência em Bits: EUA x China na Corrida Tecnológica Global

  • Por Gabriela Mialich
  • @gabmialich
  • 21 abril, 2025
  • 6 min de leitura
Chips: o novo campo de batalha geopolítico
A corrida global por supremacia tecnológica transformou os semicondutores no novo petróleo do século XXI. Estados Unidos e China travam uma disputa estratégica que vai muito além de tarifas e fábricas: está em jogo o controle da infraestrutura digital que sustenta desde smartphones até sistemas de defesa e inteligência artificial. Enquanto os EUA buscam recuperar sua posição histórica, a China investe pesado para dominar o setor.

Chips: O novo campo de batalha geopolítico

Essa dependência levou os EUA a repensarem sua estratégia industrial. A Lei dos Chips, sancionada em 2022, destinou US$ 52 bilhões para revitalizar a produção doméstica. Empresas como TSMC e Samsung receberam bilhões em incentivos para construir fábricas em solo americano. No entanto, desafios como escassez de mão de obra qualificada e altos custos logísticos têm atrasado projetos, como a planta da TSMC no Arizona, agora prevista para iniciar operações apenas em 2025.

China: De fábrica global a potência tecnológica

A China, por sua vez, lançou em 2015 o plano "Made in China 2025", com o objetivo de reduzir a dependência de tecnologias estrangeiras e se tornar líder em setores estratégicos, incluindo semicondutores. Investimentos massivos e incentivos governamentais impulsionaram o crescimento de empresas locais, como a SMIC. No entanto, restrições impostas pelos EUA, como o bloqueio à exportação de equipamentos avançados, têm limitado o acesso chinês a tecnologias de ponta.
Empresas como a Huawei expandem sua presença em mercados emergentes, enquanto o governo chinês apoia iniciativas para avançar na produção de chips de alta tecnologia.
No entanto, a China ainda enfrenta obstáculos, como sanções comerciais e restrições de exportação impostas pelos EUA, que limitam o acesso a tecnologias essenciais para a fabricação de chips avançados.
Huawei em Shenzhen

O futuro da Indústria de Semicondutores

A competição entre EUA e China pela liderança em semicondutores não mostra sinais de desaceleração. Enquanto os EUA buscam reconstruir sua capacidade produtiva, a China continua a investir em inovação e expansão de mercado.​
A Índia surge como um potencial novo polo de fabricação, oferecendo mão de obra qualificada e custos competitivos. No entanto, desafios como infraestrutura e acesso a recursos naturais ainda precisam ser superados.​
Em um setor altamente integrado e globalizado, a colaboração internacional pode ser a chave para o avanço tecnológico sustentável. A corrida pelos chips continua, e seu desfecho terá implicações profundas para a economia e a segurança global.

O papel das Startups Chinesas no avanço tecnológico

Enquanto os EUA investem em grandes fabricantes e infraestrutura, a China está apostando fortemente em seu ecossistema de startups para acelerar o domínio em tecnologias emergentes.
Empresas como Biren Technology e Cambricon estão desenvolvendo chips de inteligência artificial que buscam competir com gigantes como a Nvidia. Essas startups recebem apoio direto do governo chinês por meio de subsídios, acesso facilitado a crédito e prioridade em programas de desenvolvimento industrial.
Além disso, o modelo chinês favorece uma integração rápida entre pesquisa acadêmica e aplicação comercial, com universidades trabalhando lado a lado com startups e hubs tecnológicos. O resultado é uma maior agilidade na prototipagem e no lançamento de novas tecnologias.
Mesmo sob sanções americanas, startups chinesas têm mostrado resiliência. A Huawei, por exemplo, surpreendeu o mercado ao lançar um smartphone com chip 5G desenvolvido localmente, uma demonstração clara de que a autossuficiência está deixando de ser uma promessa e virando realidade.
O crescimento das startups também tem impulsionado a criação de centros regionais de inovação em cidades como Shenzhen, Hangzhou e Xangai. Essas regiões estão se tornando hotspots globais de deep tech, com foco em IA, robótica, computação quântica e, claro, semicondutores.

IA e o futuro da supremacia tecnológica

A inteligência artificial não é só mais um campo de disputa, ela se tornou o principal campo de batalha na corrida pela supremacia tecnológica do século XXI. Modelos avançados de IA, como os LLMs (Large Language Models), exigem uma imensa capacidade computacional, que só é possível graças a chips de altíssimo desempenho, como as GPUs (Unidades de Processamento Gráfico) da Nvidia e os aceleradores da AMD.
Esses chips são otimizados para processar bilhões de parâmetros simultaneamente, algo que os processadores tradicionais (CPUs) não conseguem fazer com a mesma eficiência. Por isso, eles se tornaram ativos estratégicos para qualquer país que deseja dominar áreas como IA generativa, defesa autônoma, biotecnologia e até previsão de padrões climáticos.
Reconhecendo esse poder, os EUA intensificaram o controle sobre a exportação de chips de IA para a China, proibindo o envio de modelos como as GPUs A100 e H100 da Nvidia. Essas placas são essenciais para o treinamento de modelos avançados como o GPT (usado pela OpenAI), Gemini (do Google) e WuDao (da China).
Chip Nvidia (Imagem: Divulgação/Nvidia)
Para driblar as sanções, a Nvidia chegou a desenvolver uma versão “capada” (a A800), com menor capacidade, voltada ao mercado chinês. Mesmo assim, novas rodadas de restrições fecharam ainda mais essa brecha, o que pode impactar diretamente o ritmo de avanço das empresas chinesas de IA.
Do lado econômico, o impacto é imediato: a Nvidia estima perdas superiores a US$ 5 bilhões por ano com a restrição ao mercado chinês que representa cerca de 20% de suas receitas em data centers. Mas, do ponto de vista estratégico, os EUA consideram essa uma troca válida para frear o crescimento de concorrentes em áreas sensíveis.
Além disso, a IA também reconfigura alianças geopolíticas. Países como Israel, Coreia do Sul, Reino Unido e Índia estão sendo cortejados pelos EUA para formar uma “aliança de IA” que compartilhe infraestrutura, dados e pesquisa, enquanto mantém a China isolada dos principais centros de inovação.
No fim das contas, quem controlar os chips e os modelos de IA mais poderosos, controlará o ritmo da inovação global. Não se trata apenas de tecnologia: trata-se de quem dita as regras do futuro.

Conclusão: colaboração ou isolamento?

A “guerra dos chips” revela um cenário geopolítico em que nenhuma nação, por mais avançada, consegue dominar sozinha a intrincada cadeia de suprimentos de semicondutores. Os Estados Unidos apostam em políticas protecionistas e subsídios bilionários para recuperar sua autonomia tecnológica, enquanto a Ásia, especialmente Taiwan, Coreia do Sul e China mantém a dianteira em inovação, escala e especialização.
Nesse contexto, o futuro da tecnologia global não será decidido apenas por quem detém os recursos, mas por quem souber equilibrar interesses nacionais com estratégias de cooperação internacional. A inovação depende de interdependência: um ecossistema verdadeiramente avançado exige colaboração entre governos, empresas e blocos econômicos. O dilema está lançado: o mundo vai escolher o isolamento estratégico ou o avanço compartilhado?

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