A tecnologia como aliada da transformação social brasileira
O Brasil ainda é um país extremamente desigual e continua lutando contra os baixos índices de desenvolvimento humano em boa parte do seu território. Ações inovadoras usam a tecnologia como aliada da transformação social.
- Por Redação Techpost
- @redacao
- 04 novembro, 2021
- 5 min de leitura
Foto retirara do site IPTI. Transformação social através de aula de robótica com sucata
A ciência e tecnologia podem fazer toda a diferença para mudar essa realidade, mas para que a transformação social aconteça, é indispensável que as organizações pensem nas comunidades como aliadas e participantes de todo e qualquer projeto social. Com isso os projetos deixam de simplesmente ter impacto social e passam a transformar a sociedade de fato.
Um dos fundadores do IPTI - Instituto de Pesquisas em tecnologia e Inovação, Saulo Barreto, acredita no uso da arte, da ciência e da tecnologia com o intuito de desenvolver as comunidades é o melhor caminho e que o Brasil é o país que tem a maior propensão de atingir efetivamente uma transformação social completa.
O IPTI foi fundado em São Paulo em 2003 e se mudou para o sul de Sergipe em 2009, Santa Luzia do Itanhy que é um dos municípios com os menos Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil (IDH). A mudança aconteceu com o objetivo de conseguir gerar soluções eficazes juntamente com a própria comunidade local em contextos de extrema vulnerabilidade.
O objetivo é criar soluções com a ajuda da tecnologia para impactar a comunidade local e eventualmente, atingir a transformação social. Para que os projetos sejam capazes de mudar a vida das pessoas dessa localidade, essas soluções inovadoras também devem ser escalonáveis, as tecnologias sociais desenvolvidas pelo Instituto poderão ser replicadas em qualquer lugar do mundo.
Em uma live para o Valor Econômico, Saulo Barreto afirmou que o Brasil é o país que tem maiores chances no mundo para fazer uma transformação social e conseguir melhorar a qualidade de vida da população. Ele acredita que para isso acontecer é necessário que o país mude o foco excessivo em números, e também nas estratégias pensadas a curto prazo, que são os dois pontos inimigos da transformação.
“O Brasil é o país mais bem posicionado no mundo para fazer transformação social e melhorar a qualidade de vida da população. A gente só precisa acreditar em nós mesmos e ser mais organizados em termos de gestão de planejamento e visão de longo prazo”
- Saulo Barreto, engenheiro civil e cofundador do IPTI
O Cofundador apresentou alguns dos projetos criados e desenvolvidos pelo Instituto, entre eles está o Synapse que teve seu início em 2010 e funciona como uma metodologia educacional e tem o propósito também de alcançar a sustentabilidade. O projeto serve ainda para aperfeiçoamento continuado da tecnologia social, além de engajar a sociedade na causa de uma alfabetização de qualidade para todas as crianças, atuando no ensino de português e matemática em escolas públicas.
Estudos apontam que o investimento na primeira infância é essencial para o desenvolvimentos, que serão os adultos da sociedade no futuro. A frase conhecida “as crianças são o futuro da humanidade” não foi dita à toa "A gente sonha com a criança que vai nascer em 2030", disse Barreto, já que “a ênfase dos esforços do IPTI é no ser humano”.
Arte Naturalista também é um dos projetos que já causaram bastante impacto social do IPTI. Ele funciona formando talentos em técnicas de ilustração e empreendedorismo. Jovens que passaram pelo projeto hoje estão dando aulas nas escolas públicas das suas comunidades locais, mostrando a possibilidade de escalonabilidade. O Arte Naturalista já trouxe parcerias com marcas como Osklen e Morena Rosa, que desfilaram coleções desenhadas pelos estudantes do projeto.
Além dessas iniciativas, o Instituto também possui mais 19 projetos que transitam entre educação básica, educação empreendedora e saúde, sempre com base em tecnologia e inovação e o respeito ao protagonismo da comunidade local.
Segundo a Fundação Banco do Brasil, "Tecnologia Social compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social.” Proptechs e Construtechs que ajudam as pessoas a sair do aluguel e conquistar o sonho da casa própria são exemplos de tecnologia social.
Barreto acredita que esse tipo de tecnologia pode mudar o mundo e resultar na transformação social que precisamos, para ele o Brasil tem mais chances de conseguir essa transformação, já que os outros países - europeus, por exemplo - estão em tempos diferentes onde já passaram da fase de criar soluções e agora lidam com o resultado de sua evolução. Sendo assim, com contextos diferentes, o Brasil precisa encontrar a sua própria solução para melhorar o desenvolvimento humano da sua população.
É muito comum que as empresas tenham projetos com o objetivo de impactar de forma positiva a comunidade em que estão inseridas e não colocarem a própria comunidade no centro desse desenvolvimento. Esse é um erro que acaba fazendo com que os projetos não sejam duradouros e não consigam de fato fazer uma transformação social, mas ainda temos chance de mudar isso e impactar de fato o mundo.
A solução para a transformação social da vida humana no planeta terra, segundo Barreto, vai acontecer aqui no hemisfério Sul. Como sugestão para promover políticas públicas mais eficazes, o pesquisador sugeriu que os grupos e empresas que desejam impactar a sociedade abrissem mão do poder.
“No dia que você não mandar em nada significa que você fez tudo certo. A minha sugestão é: Ajude a comunidade a criar uma organização social local que tenha compromisso com a comunidade. E que seja autônoma. Para gerar transformação em uma comunidade que você tem compromisso de 40 anos, você não pode depender de fatores externos que vão mudar no curto prazo, como a própria mudança de diretoria da empresa que pode transformar os rumos "do projeto"”
- Saulo Barreto, engenheiro civil e cofundador do IPTI
A ideia dele, assim como a do IPTI e suas iniciativas, é que o Brasil tem toda a capacidade de desenvolver o seu próprio método para chegar a uma transformação social que de fato funcione. As comunidades precisam de projetos, organizações, institutos que pensem de fato nelas, e deixem de lado brigas pelo poder, para que o impacto social que é tão necessário possa ser continuado e até escalonado.
Na busca por uma sociedade mais justa, ideias inovadoras, aliadas à tecnologia que temos disponível, podem e devem transformar a vida daqueles que muitas vezes não tem acesso a coisas que deveriam ser um direito, como saúde, educação e moradia. Porque no fim, a tecnologia deveria ser um meio para melhorar a vida das pessoas, em diferentes níveis.
Por Redação Techpost
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